Dimensão da Escrita: A ARTE ESQUECIDA

Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B

(Monge Beneditino)

Salvador - BA - 27 de abril de 2016

Quantas vezes passamos ao lado, ou mesmo entramos, mas não olhamos em nossa volta a grande riqueza de detalhes das obras magníficas de todas as culturas, povos, raças, civilizações, impérios; um verdadeiro museu a céu aberto. Aberto a todos os que quiserem contemplar as obras de arte que aí se encontram. As lendas e superstições que se criaram em volta deste lugar, fez com que um número significativo de pessoas não dessem nenhuma atenção às lindas peças que aí se encontram. Muitas delas são roubadas, depredadas, esquecidas, profanadas.

Se fizermos uma pesquisa em nosso país, veremos que muitos desses campos de artes, foram abandonados. Também em outros países não é diferente. Este lugar que refiro-me são os nossos Cemitérios.

Conheci muitos deles, por isso desejo passar a vocês a importância deste lugar, e de suas belíssimas obras de arte, bem como alguns significados de alguns dos símbolos aí encontrados, pois são muitos. Saibam todos que tudo que aí se colocam, trazem um significado para nós que aqui ficamos. Ao mesmo tempo que homenageamos os nossos entes queridos, estas mesmas homenagens servem para aqueles que faz a homenagem e todos os outros que contemplam a obra dedicada ao falecido. Por exemplo: quando colocamos uma ampulheta alada no túmulo do nosso parente, queremos dizer que o tempo é curto, portanto, valioso.

Ampulheta alada com tochas invertidas,

símbolo do tempo que voa, e a chama da vida sendo apagada.

Portanto, meu intento, neste pequeno texto, é mostrar o valor deste lugar, e de suas magníficas obras de arte, encontradas aí em grande quantidade. Ficando elas invisíveis aos nossos olhos. Eu, particularmente, sempre olhei estas obras como muito valiosas, mesmo sem um conhecimento mais apurado sobre elas. Hoje, conhecendo um pouco dos seus significados, fico maravilhado diante delas. Seja a mais simples ou a mais requintada arte tumular. Pois, vemos nos nossos cemitérios, túmulos de uma beleza ímpar com uma decoração magnífica, mas também túmulos muito simples; não deixando estes de ser belos. Cada um deles trás sua beleza própria.

Vejamos nesta simples sepultura a beleza, o cuidado e o respeito pelos mortos.

Conheço pessoas que não vê beleza alguma em nenhuma construção tumular, devido ao medo que esta criou em relação aos cemitérios e por causa de suas superstições.

As obras de arquiteturas, esculturas, pinturas, etc, que estão nos nossos cemitérios trazem significados que nós desconhecemos, pois são de grande quantidade e de variadas formas, períodos, culturas, poder aquisitivo, etc. Só um olhar bastante apurado e, com um conhecimento de arte, principalmente de arte religiosa, (porque nesse ambiente elas são em grande quantidade), pode enxergar a importância de cada uma delas. Olhemos a partir de hoje cada detalhe que são colocados nos túmulos e mausoléus dos nossos irmãos que nos precederam na morte, e veremos os muitos significados que aí se encontram.

O primeiro significado que desejo especificar aqui, é a própria sepultura e o ato de sepultar. Quanto a sepultura, seja ela com um belo mausoléu ou sem nenhuma construção, este ato é muito nobre e evangélico. Pois, ao dá uma sepultura aos nossos irmãos estamos fazendo uma das sete obras de misericórdia corporais (a sétima obra de misericórdia, que é enterrar os mortos), (cf. Gn 46,4; 47,30; Tb 2,9; Sl 79,2-3; 2Mc 12,39; 12,12; Jr 16,4-6; 25,33; Mt 27,52; Mc 6, 29; Jo 19,40). Todas estas passagens das Sagradas Escrituras estão relacionadas a enterrar os nossos mortos. Daí o cuidado que devemos ter em relação ao lugar onde foram sepultados os corpos dos nossos irmãos que estão aguardando a sua ressurreição. Pois, nos fala as Escrituras: “E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, para o horror eterno” (cf. Dn 12,2-3).

Por causa desse sentimento de espera e amor, prestamos homenagens decorando os túmulos dos nossos queridos parentes e amigos, com os mais belos monumentos, talhas, vitrais, pinturas, flores, etc, todos eles trazendo seus significados próprios. É nisto que está a beleza do grande conjunto cemiterial.

Pena que a maioria das pessoas não conseguem enxergar nesse grande conjunto de obras de arte a sua beleza própria, por causa das suas superstições e lendas criadas em torno delas.

Tantas lendas nasceram em relação aos cemitérios, que um grande número de pessoas tem medo deste lugar. Como também existem pessoas que não tem nenhum medo, e até os usam para suas maquinações, muitas vezes diabólicas. Outros, possuem o maior respeito por este lugar que é Sagrado, tanto quanto as nossas igrejas. Muitos nem sabem que ao entrarem em qualquer cemitério, e ter feito a confissão sacramental, bem como rezar pelas almas e pelo Santo Padre o Papa, essa pessoa lucra indulgências aplicáveis às almas. Vejamos o que nos diz o manual das indulgências a esse respeito:

Ao fiel que visitar devotamente um cemitério e rezar, mesmo em espírito, pelos defuntos, concede-se indulgência aplicável somente às almas do purgatório. Esta indulgência será plenária, cada dia, 1 a 8 de novembro; nos outros dias do ano será parcial. (MANUAL DAS INDULGÊNCIAS n. 13).

Bem como o número 14 do mesmo manual assim nos dá esta outra concessão: “Ao fiel que visitar devotamente um cemitério de antigos cristãos ou “catacumba”, concede-se indulgência parcial” (MANUAL DAS INDULGÊNCIAS n. 14). Sei que nem todos creem em indulgências, mas para os que creem está aqui mais uma referência para mostrar que este lugar merece grande respeito.

ALGUNS SIGNIFICADOS DA ARTE TUMULAR

A arte que vemos nos cemitérios é de uma riqueza grandiosa! Passemos de hoje em diante a analisar os elementos artísticos deste espaço sagrado. Todos estes elementos trazem em si uma história própria, também ligado à história do falecido. Cada um deles é posto na sepultura de forma artisticamente simétricos.

Passemos ao significado de alguns destes elementos artísticos, arquitetura, organizações, etc, para ficarmos cientes de sua beleza e desmitificarmos das lendas assustadoras e superstições que puseram neste campo sagrado, valioso e belo.

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CEMITÉRIO DO MOSTEIRO DE SÃO BENTO DA BAHIA
SALVADOR - BAHIA - BRASIL

Mosteiro construído em 1582, o primeiro do Novo Mundo

Vista panorâmica do Arquicenóbio de São Sebastião da Bahia
Mosteiro de São Bento da Bahia
Salvador, Bahia - Brasil

Vista do Claustro e Cemitério do Arquicenóbio
Mosteiro de São Bento da Bahia
Salvador, Bahia - Brasil

Claustro do Arquicenóbio com vista para o cemitério da Arquiabadia
Mosteiro de São Bento da Bahia
Salvador, Bahia - Brasil

Cemitério do Arquicenóbio de São Sebastião da Bahia com suas antigas lápides e sepulturas dos monges

Mosteiro de São Bento da Bahia

Salvador, Bahia - Brasil

Antigas lápides sepulcrais dos nossos irmãos monges falecidos neste Arquicenóbio e em outros Mosteiros da nossa Congregação Beneditina do Brasil

Mosteiro de São Bento da Bahia

Salvador, Bahia - Brasil

Lápide sepulcral do primeiro Rev.mo Abade

Frei Antônio Ventura fundador do Mosteiro da Bahia

Mosteiro de São Bento da Bahia
Salvador, Bahia - Brasil

Cemitério da Arquiabadia de São Sebastião da Bahia

Mosteiro de São Bento da Bahia

Salvador, Bahia - Brasil

Lápide sepulcral do Rev.mo Abade Geral, Frei Domingos da Transfiguração Machado, O.S.B, restaurador da Congregação Beneditina do Brasileira
Mosteiro de São Bento da Bahia
Salvador, Bahia - Brasil

Lápide sepulcral do Rev.mo Dom Abade Plácido Staeb, O.S.B
Mosteiro de São Bento da Bahia

Salvador, Bahia - Brasil

Lápide sepulcral do Rev.mo Dom Abade Timóteo Amoroso Anastácio, O.S.B

Mosteiro de São Bento da Bahia

Salvador, Bahia - Brasil

Lápide sepulcral do Rev.mo Dom Abade Paulo Rocha, O.S.B

Mosteiro de São Bento da Bahia

Salvador, Bahia - Brasil

Lápide sepulcral do Rev.mo Dom Abade Ruperto Rudolf, O.S.B
Mosteiro de São Bento da Bahia
Salvador, Bahia - Brasil

Lápide sepulcral do nosso irmão Dom Henrique des Enfans d'Avernas

Mosteiro de São Bento da Bahia

Salvador, Bahia - Brasil

Celebração do dia de finados - 2015
Procissão dos monges no cemitério do Mosteiro (claustro)

Mosteiro de São Bento da Bahia
Salvador, Bahia - Brasil

Procissão dos monges no claustro do Mosteiro no dia de finados

Sepulturas dos nossos irmãos monges

Dom Arquiabade Emanuel d'Able do Amaral, O.S.B, abençoando os túmulos

Dom Arquiabade Emanuel d'Able do Amaral, O.S.B, incensando os túmulos dos nossos irmãos monges

Saída dos monges, em procissão, para a sacristia do Mosteiro

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CEMITÉRIO DO CAMPO SANTO

SALVADOR BAHIA - BRASIL

Construído no início do século XIX (inauguração - 1836)

Santa Casa de Misericórdia da Bahia

Circuilto Cultural do Campo Santo.

Dom Gilvan Francisco, O.S.B, contemplando a suntuosa entrada do cemitério Campo Santo

Dom Gilvan Francisco, O.S.B, contemplando a bela fachada neogótica da Capela de Nossa Senhora da Piedade do cemitério Campo Santo

A bela fachada neogótica da Capela de Nossa Senhora da Piedade

Altar-Mor da Capela

Altar de Nossa Senhora da Piedade

Dom Gilvan Francisco, O.S.B, contemplando a beleza da Capela

Vista dos fundos da Capela de Nossa Senhora da Piedade

Dom Gilvan Francisco, O.S.B, apreciando e explicando os simbolismos
das belas artes do cemitério

Arte religiosa de uma beleza singular

A serenidade do Anjo sobre o túmulo uma verdadeira contemplação

Vejam a leveza e o movimento desta belíssima obra!

Os monges beneditinos da Arquiabadia de São Sebastião da Bahia, no cemitério do Campo Santo na ocasião do sepultamento do artista Santi Scaldaferri.

SIGNIFICADOS DE ALGUMAS ARTES
DO CEMITÉRIO

- Inspirados nos modelos clássicos (Grécia e Roma), o mausoléu em forma de panteão enfatiza o equilíbrio e a simplicidade.

- As colunas símbolos de sustentação, também representam a energia vital, ascensão, firmeza, força e estabilidade terrestre e cósmica.

- No frontão as letras “P” e “X” formando o monograma de Cristo, formado a partir das letras

gregas CHI (qui) e RÔ, iniciais de (“Cristo” em grego).

- Inspirado no modelo românico, com colunas e paredes grossas, o mausoléu, em forma de catedral, enfatiza a solidez: a fortaleza de Deus, majestosa e sagrada.

- Os painéis em auto relevo – mármore e bronze – retratam as atividades profissionais dos sepultados, respectivamente cirurgião e empresário.

- O acanto, flores e frutos, no capitel, significam a temporalidade do corpo físico.

- A matéria prima da arte cemiterial é sólida, pesada e durável, assim como a vida, que é concreta, sólida, sofrida, mas depois, eterna.

No conjunto artístico desses mausoléus, a composição cênica simboliza a proteção divina, o amparo de Deus, a caridade e a união familiar, representados pelos elementos que a compõem:

Balaústre: símbolo da proteção divina;

Anjo: símbolo do amparo celestial;

Sagrada Família: símbolo da união familiar;

Mulher com crianças: símbolo da Caridade.

- O simbolismo da mulher sobre o ataúde é a tradução do sofrimento que a morte faz abater
sobre a família.

- A presença das rosas na arte cemiterial faz alusão à glória do Paraíso,

devido ao seu perfume e beleza.

- O homem alado, coroado com louros, lembra a pureza e a vitória na vida do casal sepultado.

- A estrela sobre a cabeça simboliza uma “Janela Cósmica”, um ponto de entrada para o céu.

- A grande âncora simboliza a Esperança Cristã.

- Trazida da mitologia grega, a deusa NYX (noite) tem nesse monumento a representação de dois filhos: Sono e Morte, mas figuras dos anjos.

- Apagando as tochas, eles anunciam o fim da vida.

- A figura feminina sobre a urna é uma alusão à deusa (NYX).

- Os felinos deitados simbolizam o amparo, no paraíso, à alma do falecido.

- O busto da Baronesa, dentro de uma guirlanda, faz referência ao triunfo da vida eterna sobre a morte.

- A coroa realça sua posição social.

- Imagem de devoção da família, Nossa Senhora da Conceição, que concebe o Divino e extermina o mal.

- Colunas vazadas (símbolos da eternidade) sustenta o arco (símbolo do céu), que abriga a virtude da caridade, representada pela mulher que ampara as crianças.

- O anjo da morte (a jovem), com o sinal do martírio (a palma), leva o moço, que tem a chama da vida acesa em sua mão.

- Painel em alto relevo ladeado de colunas, uma delas quebrada, que simboliza a morte do chefe da família, seu pilar de sustentação.

- O homem com a bigorna é a representação do trabalho; a mulher com a criança é o símbolo da caridade.

- A simbologia das asas está ligada à pureza dos anjos, à inocência. O homem alado, de joelho sobre os livros com as legendas “LEX” e “PÁTRIA”, reflete a lembrança de um homem puro, dedicado à justiça e à pátria.

- Escultura de base retangular, circundada por balaustrada, tem forma de urna.

Seus elementos decorativos, as garras de leão e a coruja, simbolizam respectivamente a segurança e a vigilância constante.

- O baldaquino simboliza o céu, o poder protetor.

Os pares de colunas em estilos diferentes simbolizam a morte e o início da vida eterna.

A morte também está presente na caveira.

A passagem do tempo (vida para a morte), se reflete na ampulheta alada. A “luz divina” é representada pelos tocheiros.

- Anjo apoiado na cruz, leva à reflexão sobre a morte, tendo a fé como apoio para superar a dor da perda (morte).

- As tochas invertidas simbolizam a chama da vida sendo apagada.

- A guirlanda na mão da Fé é um elemento de vitória, e fala da paz e da serenidade que a Fé nos trás.

- Um baldaquino, símbolo do céu, indica a santidade do lugar.

Ampulheta

- A ampulheta e as guirlandas são símbolos de uma vida longa e honrada.

- As esculturas representam as virtudes da Fé, Caridade, Justiça e Esperança.

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CEMITÉRIO DE SANTO ANTÔNIO DA VILA DE APOTI
PERNAMBUCO - BRASIL

Construído no início do século XX

Este cemitério trás túmulos simples, porém belos, de vários estilos.